Refinarias do NE em xeque
Politicamente desejadas no governo Lula, mas economicamente inviáveis,
as refinarias Premium I, no Maranhão, e a Premium II, no Ceará, deverão ter
seus destinos decididos até julho deste ano.
Ao detalhar o Plano de Negócios 2013-2017 ao mercado, a presidente da
Petrobras, Maria das Graças Foster, afirmou ontem que, apesar de importantes
para o atendimento do mercado interno de combustíveis, os dois projetos, além
da segunda unidade de refino do Comperj, em Itaboraí, no Rio de Janeiro,
precisam se tornar viáveis economicamente para serem executados.
— O desafio agora é viabilizar essas refinarias para que elas sejam
competitivas a nível internacional. Essas refinarias nunca subiram no telhado,
nem estão no telhado, mas não posso construir uma refinaria que não deu tudo de
si como projeto. As Premium precisam mostrar evolução em sua concepção. Não é
pessimismo nem otimismo, é realidade — destacou Graça.
As duas refinarias entraram nos planos estratégicos da Petrobras em 2008,
quando a companhia era comandada por José Sergio Gabrielli. A do Maranhão, com
capacidade para refinar 600 mil barris por dia e orçada pelo mercado em cerca
de US$ 20 bilhões, tinha previsão para iniciar a operação em 2016. Já a do
Ceará, de 300 mil barris por dia e custo estimado em US$ 10 bilhões, entraria
em 2017. Para especialistas, a decisão de Gabrielli, que foi predominantemente
política, para agradar aliados do governo, carece de suporte técnico e econômico.
Segundo o ex-diretor da Petrobras Wagner Freire, a opção pelas Premium,
isoladas no Nordeste, revela que houve ingerência política do governo federal.
— Por que e para que investir em refinarias no Maranhão e no Ceará? Ao meu ver,
esses investimentos não têm sentido. Mesmo sendo adiados, deveriam ser revistos
— diz Freire.
O especialista Adriano Pires concorda que a decisão de se construir as
refinarias foi política, mas, lembra que havia um argumento técnico, a
exportação dos derivados e, posteriormente, o suprimento do consumo na região.
— Esses projetos se tornaram inviáveis porque, além das margens de refino serem
pequenas, o governo controlou os preços dos combustíveis — afirma.
As duas refinarias constam como projetos em avaliação do Plano 2013/17, que
prevê investimentos de US$ 236,7 bilhões, o mesmo volume do Plano 2012/16. A
redução dos custos da companhia envolve ainda a Refinaria Abreu e Lima, em
Pernambuco. Graça afirmou que já conseguiu reduzir custos em US$ 3 bilhões.
Atualmente, a refinaria está orçada em US$ 17,3 bilhões, dos quais já foram
gastos US$ 11,7 bilhões, com 70,6% da obra executada. Sobre a possibilidade de
a petroleira estatal da Venezuela, PDVSA, ainda participar do projeto, Graça
disse que está aberta a discussões. No dia 28 de fevereiro, venceu o prazo do
último aditivo, no qual se esperava uma posição da Venezuela.
— Foi solicitada uma agenda com o presidente da PDVSA — destacou Graça.
Os executivos da Petrobras detalharam ainda a evolução da produção do petróleo
para os próximos anos. Para 2013, a expectativa é de uma produção de dois
milhões de barris por dia, com uma variação de 2% para cima ou para baixo.
Graça lembrou que, a partir do segundo semestre deste ano, com a entrada de
novas plataformas, a produção começará a crescer, chegando a 2,75 bilhões por
dia em 2017. Para 2020, a meta é de 4,2 milhões diários.
O destaque dos próximos períodos ficará por conta do pré-sal. Sua produção,
hoje em 300 mil barris por dia, vai saltar para 1 milhão de barris diários em
2017, ou 42% do total. José Formigli, diretor de Exploração y Produção da
estatal, afirmou que em 2020 o pré-sal vai produzir 2 milhões por dia, cerca de
metade do total.
— O pré-sal corresponde a 30% dos investimentos em exploração, cerca de US$ 7,2
bilhões. Em produção, a fatia sobe para 68%, com US$ 72,6 bilhões. Em 2011, o
pré-sal era 5%; em 2012, foi 7%. A opção da empresa é a otimização dos
investimentos em exploração e produção — afirmou.
Segundo o Plano 2013/17, o segmento de exploração e produção vai consumir US$
147,5 bilhões, 62% do total. Graça se disse satisfeita com a manutenção das
metas de produção e destacou o forte desenvolvimento no pré-sal, com ganhos de
produtividade e redução de custos. Ela citou que o tempo de perfuração de um
poço no pré-sal caiu de 134 dias para 70 dias:
— Temos poços que hoje produzem 30 mil barris por dia de óleo.
Ações em queda na Bolsa
Para escoar o aumento da produção que virá com o pré-sal, a Petrobras está
analisando criar novas bases portuárias no Norte do Rio e no Espírito Santo. A
empresa admitiu que está conversando com o empresário Eike Batista para usar o
Porto de Açu, em São João da Barra, como uma das bases para escoar a produção.
Formigli, no entanto, ressaltou que a principal base será o Porto do Rio:
— (O Porto do Rio) tem capacidade para atender por vários anos, já que Macaé
está no limite.
Apesar da manutenção das metas de produção, o mercado reagiu mal ao
detalhamento do plano, por causa da falta de previsão de novos reajustes de
combustíveis. Além disso, desagradou o fato de que não haverá mudanças na
distribuição de dividendos, alterada recentemente para gerar mais caixa à
empresa. Com isso, as ações preferenciais (PN, sem direito a voto) perderam
0,52% e os papéis ordinários (ON, com direito a voto) recuaram 1,81% ontem na
Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).
— Não posso dizer que preciso de mais um, dois, ou três reajustes, ou nenhum,
para para colocar esse plano sustentável. Estamos buscando a convergência com
os preços internacionais. Nos últimos nove meses, tivemos quatro aumentos (de
21,9% no diesel e de 14,9% na gasolina) e temos demonstrado empenho na busca da
aproximação da convergência — disse Graça.
Para executar o plano, o diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa,
garantiu que a empresa vai manter sua alavancagem em até 35% para não perder o
grau de investimento. Outro compromisso, disse, é que não serão feitas novas
emissões de ações. Dos investimentos totais, US$ 165 bilhões virão de recursos
próprios e US$ 61,3 bilhões serão captados no mercado, além de US$ 10 bilhões
com venda de ativos.